Novo remédio contra malária será implementado em Manaus por meio do SUS, anuncia Ministério da Saúde
13/09/2023 08:45 em Saúde & Ciências

Fármaco é conhecido como "Tafenoquina". Anúncio feito nesta segunda-feira (11), durante a 58ª edição da conferência anual da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop), realizado em Salvador (BA)

 

Um novo fármaco contra a malária (Plasmodium vivax) começará a ser implementado em Manaus por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir do primeiro semestre de 2024: a Tafenoquina. O anúncio feito nesta segunda-feira (11), durante a 58ª edição da conferência anual da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop), realizado em Salvador (BA), reuniu representantes do Ministério da Saúde (MS) que já consideram o medicamento de dose única como a primeira inovação em mais de 60 anos.

 

Publicada em 27 de junho deste ano, a portaria nº 27, da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo de Saúde determinou a incorporação da Tafenoquina dose única em adultos no SUS, que considera a malária como uma doença de determinação social, que afeta principalmente pessoas em situação de vulnerabilidade social. Nessa lista, também estão à doença de Chagas, Tuberculose, Hepatites virais e Hanseníase. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a nova formulação pediátrica da droga para crianças de dois anos ou mais.

 

Junto com a Tafenoquina também anunciaram durante o 58º MedTrop o teste de G6PD como outra inovação tecnológica para detecção da malária. Essas ferramentas pioneiras oferecem uma cura radical simples, mas efetiva, prevenindo as recaídas de malária por Plasmodium vivax. Os dois produtos são resultado da colaboração entre o MS e a iniciativa da Parceria para Eliminação do Vivax (PAVE), um consórcio multisetorial de programas de malária.

 

Cássio Peterka, técnico integrante da Coordenação de Eliminação de Malária do Departamento de Doenças Transmissíveis (DEDT) da Coordenação do Programa de Eliminação da Malária (Cema) do MS, pontuou que em Manaus será feita uma retomada da utilização da Tafenoquina  após período testes. “Agora seria uma retomada da utilização da tafenoquina onde já foi iniciado esse projeto de implementação. A gente tem uma previsão de aquisição dos medicamentos e dos testes para que a gente consiga, a partir de janeiro do ano que vem iniciar essa continuidade de tratamento com a tafenoquina em Manaus e também Porto Velho”.  

 

Peterka detalhou durante o 58º MedTrop sobre o planejamento da Tafenoquina em nível nacional. “Até o primeiro semestre de 2024, queremos implementar nos municípios de Calçoene (AP), Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM) e Porto Velho (RO). No segundo semestre de 2025, queremos implementar em todos os municípios do Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso, Amapá e Acre, incluindo áreas indígenas”, explicou.

 

Sobre G6PD, Cássio frisou os motivos que levam a considerar o teste como uma inovação tecnológica.  “Bom, o teste mensura e quantifica a atividade dessa enzima nas pessoas. Ele é importante não pro diagnóstico da malária, mas pra saber se a pessoa tem uma atividade da enzima que seja compatível para a utilização da tafenoquina. Pessoas com baixa atividade da enzima de G6PD não podem utilizar a tafenoquina, daí elas precisam utilizar outras formas de tratamento pra poder curar a malária”.

 

Segundo Peterka, a Tafenoquina promete uma “cura radical simples” o que significa que “malária vivax a malária ovale que ocorre na África, têm uma forma que fica adormecida no fígado e em alguns outros tecidos. Tanto a Tafenoquina quanto a Primaquina, fazem com que essa forma (de agente) fique adormecida e seja atingida. Vamos dizer assim, que ela morra e não cause novas recaídas da doença. Então a gente com a cura radical, elimina não só o Plasmódium no sangue, mas também elimina essas formas que ficam adormecidas nos tecidos, principalmente no fígado”.

 

(Foto: Divulgação / 58º MedTrop)

 

Resultado de estudo

A decisão de adotar essas ferramentas é resultado da abrangente revisão de um dossiê de evidências científicas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS, sob pedido do Programa Nacional de Malária do Brasil. O documento incluiu evidências sobre segurança e eficácia, obtidos de estudos clínicos randomizados; dados da primeira e da segunda análise interina do estudo Tafenoquine Roll-oUt STudy (TRuST).

 

O TRusST é o maior estudo de vida real sobre o uso da Tafenoquina de dose única e testagem de G6PD, conduzido no Brasil de 2021 a 2022. Assim como os resultados do estudo qualitativo (QualiTRuST), que buscou entender as perspectivas de trabalhadores da saúde e pacientes sobre a introdução dessas novas ferramentas; além de análises de custo-efetividade e impacto orçamentário. 

 

Os resultados do TRuST foram apresentados durante o evento de ontem (11). O estudo foi copatrocinado pelo Ministério da Saúde do Brasil e a organização sem fins lucrativos, Medicines for Malaria Venture (MMV). E liderado pelos pesquisadores doutor Marcus Lacerda da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e Dhelio Pereira do Centro de Pesquisa de Medicina Tropical de Rondônia (CEPEM) nos municípios de Manaus e Porto Velho. 

 

Brasil na luta global

Os resultados da implementação da Tafenoquina e do teste G6PD foram apresentados a importantes parceiros no campo da malária, incluindo a Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) e serão apresentados aos Programas Nacionais de Malária de outros países endêmicos, posicionando o Brasil como um exemplo na luta global contra a malária. 

 

“O mundo está acompanhando o progresso do Brasil. É um país pioneiro em adotar formalmente estas ferramentas (diagnóstico e tratamento de próxima geração para P. vivax) com o objetivo de melhorar o tratamento da malária. O trabalho de viabilidade cuidadosamente elaborado pelo Brasil para determinar como implantar estas novas ferramentas servirá como um guia para os países vizinhos nas Américas que estão considerando as mesmas opções”, disse George Jagoe, vice-presidente Executivo de Acesso e Gestão de Produtos da MMV durante o 58º MedTrop.

 

(Foto: Arquivo AC)

Fonte: Robson Adriano online@acritica.com

 

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