Uma proposta para sair do papel
25/10/2023 10:02 em Educação

A convocação, pelo governo estadual, de agricultores indígenas para fornecer alimentos destinados à merenda escolar, é uma disposição diferente e importante

 

A convocação, pelo governo estadual, de agricultores indígenas para fornecer alimentos destinados à merenda escolar, é uma disposição diferente e importante. É possível considerar que pouco se sabe sobre a proposta e como está sendo preparada, pressupondo a realização de um plano antecipado por levantamento de informações, estudos e de reuniões com líderes de comunidades indígenas.

 

Se nenhuma dessas etapas foi observada, a ideia de inserção da agricultura praticada por comunidades indígenas na política da merenda  escolar poderá ser engavetada sob a alegação de que não deu certo. E tem condições de funcionar, desde que a participação dos produtores indígenas seja valorizada e seus critérios de produção respeitados.

 

A inclusão dos indígenas, de suas culturas e de suas produções nas ações de governo é historicamente ignorada e as razões estão postas na própria versão prevalente da história, de negação e de permanente tentativa de submissão desses povos a uma lógica de desenvolvimento que os ameaça. Quando o governo estadual sinaliza com possibilidade de a agricultura praticada por indígenas participar do programa de merenda escolar abre-se uma janela que poderá vir a ser uma porta.

 

Os resultados, dentro de um planejamento diferenciado, se refletiria numa merenda escolar mais natural diante dos alimentos altamente processados, estimulo à alimentação mais saudável, ao conhecimento e ou ampliação deste sobre alimentos amazônicos, à agricultura familiar e comunitária, garantia e incentivo do uso da terra para fins da agricultura de pequeno porte entre outros aspectos positivos. A noção da cultura de participação daria um passo à frente no Estado e, mais, se constituiria em chance real de ampliar o sentido da escola, pois, o próprio modelo adotado para a produção, aquisição e oferta da merenda seriam resultados desse enfoque.

 

Para realizá-lo, o governo estadual é desafiado a manter firme disposição a fim de enfrentar as pressões de outros segmentos empresariais que têm na merenda escolar as suas receitas, a aprofundar conhecimentos sobre a realidade do Amazonas e da produção indígena mantida no que pesquisadores classificam de “economia invisível”, e saber onde e como poderá adquirir, por preços justos, os produtos oriundos de comunidades indígenas. A proposta está desenhada, precisa ser apresentada amplamente e colocada em prática e, pelos valores que poderá vir a contemplar, se feita com seriedade, é um dos presentes promissores a Manaus.

 

(Foto: Seduc/Divulgação)

EDITORIAL AC Jornal A Crítica

 

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