Moradores de comunidade ribeirinha relatam isolamento e desabastecimento por conta da estiagem
Manaus & Municípios
Publicado em 04/10/2023

Segundo quem mora na comunidade São Thomé, no Rio Negro, o cenário no local é desesperador. Trajeto que antes levava 6 horas de barco até a capital amazonense, agora está quase impossível de ser feito

 

“A nossa situação aqui não está fácil. Olhamos de um lado para o outro e só vemos lama, poço d’água e nada mais. Nosso poço artesiano não tem mais força pra jogar água, então, estamos à mercê da natureza agora. Se chove nós temos água, se não chove nós temos que dar um jeito, cavar buraco onde era antes igarapé e tentar achar água pra poder sobreviver. Outra situação muito grave é a minha esposa que está no último mês de gravidez, mas ainda está aqui ‘empoçada’ junto com a gente”. 

 

Este é o relato e o drama do agricultor Abílio Lopes, de 56 anos, e do restante dos moradores da comunidade indígena São Thomé, que estão praticamente ilhados por conta da vazante extrema no Amazonas. O trajeto que antes levava 6 horas de barco até a capital amazonense, atualmente, com o nível baixíssimo dos rios, está quase impossível de ser feito. 

 

A comunidade São Thomé está localizada na região do arquipélago de Anavilhanas, à margem esquerda do rio Negro, na entrada do rio Cuieiras, e o cenário por lá, segundo os moradores, é desesperador. Para chegar ao local em que o nível do rio possibilita a navegação, os moradores precisam caminhar cerca de 6 quilômetros, enfrentando poças de águas escaldantes e risco de picada de raia. 

 

As plantações estão morrendo, o poço secou, mas a preocupação maior do agricultor Abílio é a esposa que está prestes a ganhar bebê. Ele relata que o nascimento do filho está previsto para o dia 25 deste mês, mas para levá-la ao posto de saúde mais próximo na hora do parto somente carregando a esposa grávida nos braços, porque a ambulância que atende a região não chega mais até lá por conta da seca. 

 

“Nós temos o polo básico (de saúde) que fica há uns 6 km daqui, lá eles têm ambulância, mas infelizmente não seria possível chegar até aqui de forma alguma. A única solução seria carregar, ou por cima, de transporte aéreo, mas recurso nós não temos. Pra carregar nós não temos nem macas, não temos nenhuma embarcação que pudesse nos transportar até Manaus, porque no primeiro sinal (de parto), a gente podia correr, colocar dentro de uma rede e levar até a beira do rio, carregando esses 6 km, pra depois pegar o motor, mas infelizmente não tem esse motor”, lamentou.

 

Outro problema da comunidade ribeirinha, além da água potável, é a alimentação, que antes podia ser buscada na capital ou trazida pelos barcos, que hoje não passam mais por lá.

 

“Ter que ir buscar em Manaus, o acesso aqui já está difícil, não está dando, ter que atravessar os igarapés com água escaldante, cheio de arrais também por aí, então isso causou um prejuízo muito grande nas nossas comunidades”, relata Abílio. 

 

O agricultor destacou ainda que, até o momento, nenhuma ajuda chegou até a comunidade, nem mesmo um levantamento para saber qual a necessidade básica deles. Ainda segundo Abílio, a prefeitura de Manaus teria prometido levar água potável e alimentos à comunidade, mas até agora esses mantimentos não chegaram.

 

Situação da estiagem

Nesta terça-feira (3), o governo do Amazonas, por meio do Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental, divulgou que até as 14h desta terça havia 24 municípios em situação de emergência, 34 cidades de alerta, 2 em atenção e 2 em normalidade.

 

O Comitê foi instituído no dia 29 de setembro pelo Governador Wilson Lima, que também decretou situação de emergência em 55 municípios do Amazonas afetados pela seca severa que atinge o estado.

 

Visita

Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (3), o vice-presidente da República e ministro de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckmin, anunciou que virá a Manaus, nesta quarta-feira (3), com uma comitiva para verificar a situação da vazante no estado. Segundo o governador Wilson Lima, o plano é que Alckmin faça um sobrevoo na região metropolitana de Manaus e depois visite uma comunidade afetada pela estiagem.

 

Atual situação da comunidade indígena São Thomé, que está praticamente ilhada (Foto: Divulgação)

Fonte: Amariles Gama / online@acritica.com

 

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