Enquanto alguns milhares de brasileiros sequer têm acesso às três alimentações básicas diárias, segundo estudo do Instituto de Economia da FGV, os ricos do Brasil estão mais ricos
O fosso da desigualdade cresce no Brasil. A questão é: quem se importa com essa situação? O que está sendo feito efetivamente e quanto tempo será necessário para mudar esse quadro são algumas das questões postas.
De acordo com o estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), tendo o Imposto de Renda como base de análise, os ricos do Brasil estão mais ricos. A pesquisa mostra que a variação registrada pelos mais ricos foi de 51%, 67% e 87% nos estratos mais seletos, os mais ricos. Entre os 15 mil milionários que compõem o 0,01% mais rico, o crescimento da riqueza nos últimos cinco anos foi de 96%. A maioria da população adulta experimentou em igual período crescimento nominal médio de 33%.
Alguns milhares de brasileiros sequer têm acesso às três alimentações básicas diárias e outros tantos nem mesmo a uma refeição adequada. São os que vivem na pobreza e somam 67 milhões de pessoas. Houve recuo na taxa de pobreza no ano passado de 36% para 31%, o que é dado a ser comemorado, mas a produção da desigualdade permanece vigorosa e em expansão com nível de concentração elevado.
Os poderes executivo e legislativo têm tarefas urgentes a realizar nessa área em nível nacional, regional e local. Os coletivos do movimento popular podem ser mobilizadores tanto na exposição da pauta da desigualdade quanto na realização de ações que pressionem para a tomada de decisões enquanto política de promoção da igualdade e desconcentração da renda.
O tema incomoda, mexe com interesses grandes e de poucos cujo poder é diverso e enorme. Não se pode ignorar o tipo de reação que o 1% mais rico do País irá reagir para impedir que mudanças possam ser concretizadas e impactem suas fortunas. Cabe a tomada de posição e a vontade política governamental para enfrentar a realidade posta como estigma do Brasil, uma nação de milhões de indivíduos que passam fome, a informalidade como meio de geração de trabalho e de renda empurrando outros milhões a um padrão de vida indigno, sem direitos.
Aceitar que os ricos fiquem mais ricos e 95% da população brasileira vivam em outro patamar é concordar em ter a desigualdade como indicador natural da sociedade.
Foto: (A CRÍTICA/Junio Matos: 14/nov/2019)
Fonte: Editorial Jornal A Crítica