Presidente da ABAV diz ser uma ‘pena’ que economia do estado gire em torno da indústria e defende incentivo ao turismo
Em meio a debates sobre o futuro da Zona Franca com a reforma tributária e a necessidade cada vez maior de olhar a floresta a partir de uma visão socioambiental, o turismo tem crescido como a alternativa inevitável para fortalecer a matriz econômica do Amazonas. Este é o contexto em que se realiza, a partir desta quinta-feira, com encerramento na sexta-feira, a segunda edição da Convenção de Turismo do Amazonas (Conta-AM).
O evento será realizado no Centro de Convenções Vasco Vasques e espera receber mais de 1,5 mil agentes de turismo do Amazonas e de outros estados. A organização é uma parceria entre a Associação Brasileira de Agências de Viagens do Amazonas (ABAV-AM), a Azul Viagem e a Azul Linhas Aéreas. Há também apoio da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) e de hoteis locais que hospedarão convidados.
“A Conta-AM é de suma importância para o nosso estado. Ele foi criado não só para homenagear a ABAV, que faz aniversário em maio, mas também para impulsionar o turismo. Vamos receber quase 100 agentes de turismo de outros estados. Desse total, nem 10% conhece o estado”, afirma o presidente da Associação, Jaime Mendonça.
Ele aposta na divulgação do Amazonas para os agentes que depois poderão se interessar em vender pacotes para clientes em seus estados de origem. Haverá empresas de Roraima, Pará, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia e Minas Gerais.
Temas
Nesta segunda edição da Conta-AM, haverá estandes com empresas que prestam serviços a turistas, desde a hotelaria até as experiências de viagem, além de palestras com os atuais temas que interessam ao setor. Alguns deles são a gastronomia como atrativo turístico, inovações empreendedoras, movimento orgânico de revitalização do Centro de Manaus, inteligência artificial, inovação e automação.
Jaime Mendonça ressalta que o turismo não é apenas a venda de passagens ou o serviço de experiência turísticas, mas sim uma atividade que influencia uma cadeia econômica. “Turistas compram no mercado, em farmácia. Se gostarem muito do local, podem até comprar um terreno ou uma casa. Por que não? Não são todos que fazem, mas acontece”, diz.
“É uma pena que o nosso estado seja muito voltado para a indústria. É o que eu falo, temos que fazer essas movimentações, porque hoje temos, mas amanhã podemos não ter mais. E nossa economia gira quase totalmente pela indústria”, pontua ele, se referindo ao modelo Zona Franca de Manaus, principal matriz econômica do Amazonas, cuja vigência vai até 2073, conforme a Constituição Federal.
Desafios
Especialistas ouvidos pela reportagem veem o futuro do turismo no Amazonas com bons olhos, mas ainda há uma série de desafios a serem vencidos para que o setor possa registrar avanços. De acordo com Jaime, a infraestrutura e o custo para chegar ao Amazonas ainda são fatores que pesam.
“Hoje o nosso turismo é muito internacional, porque o estado tem esse apelo ecológico, algo que, infelizmente, interessa mais aos estrangeiros. A movimentação que a Associação faz é para vender o destino, porque precisamos de mais voos, afinal, Manaus é como se fosse uma ilha, não temos estradas para chegar aqui. Temos a BR-319, mas nem preciso gastar saliva para falar da situação dela”, afirma o presidente da entidade.
Outro problema que se mostrou mais latente no ano passado é o impacto da crise climática que já afeta o mundo. Em 2023, quando houve a maior seca já registrada no Amazonas, hoteis de selva precisaram fechar e uma série de passeios normalmente feitos no interior ou na zona rural de Manaus foram cancelados. “Tivemos de nos adaptar, principalmente focando em passeios que ficavam na capital”, destaca Jaime.
Observatório cobra planos para turismo
Dados da Amazonastur mostram que o Amazonas recebeu mais de 381 mil turistas em 2023. A marca representa alta de 4,75% na movimentação de turismo frente ao ano anterior, quando 363 mil passaram pelo estado. O desempenho foi puxado pelo aumento de 370% no fluxo de estrangeiros. Foram 65 mil turistas internacionais no período.
A pesquisa apontou que os EUA (24,08%), Alemanha (9,65%), Colômbia (9,59%), Espanha (6,53%), França (4%) e Inglaterra (3%) como os maiores emissores de turistas de outras nacionalidades. Entre os nacionais, as principais origens foram de São Paulo (29,93%), Pará (11,06%), Roraima (7,33%), Distrito Federal (6,25%), Rio de Janeiro (6,25%).
“Estamos caminhando, fazendo estudos que possam dar o direcionamento, uma orientação, mas a gente precisa trabalhar em políticas públicas que valorizem, por exemplo, os turismólogos, que tenham concursos para turismólogos. Precisamos de um plano de turismo estadual, plano de turismo municipal, que é o que induz o turismo em todo o Amazonas. Além disso, valorizar as empresas que levam o setor nas costas com incentivos fiscais”, avalia a coordenadora da Rede Interinstitucional do Observatório de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Márcia Raquel Cavalcante Guimarães.
(Foto: Oliveira Junior / Manauscult)
Por: Waldick Júnior / waldick@acritica.com