Chuvas na cabeceira do Solimões ficam muito abaixo do normal
Turismo & Meio Ambiente
Publicado em 07/06/2024

Pesquisador do INPA ressaltou que nem o sistema de medição conseguiu verificar a baixa quantidade

 

O pesquisador Renato Senna, do Instituto de Pesquisas da Amazônia, alertou para o baixo nível de chuvas nos rios peruanos que formam o rio Solimões no estado do Amazonas. Segundo ele, em alguns cursos d’água a situação está tão ruim que o modelo de medição não consegue acompanhar o déficit das chuvas. O problema atinge principalmente na altura do rio Marañon, nome pelo qual o Solimões é conhecido na região da cordilheira dos Andes.

 

“A gente vê esse comportamento já bastante preocupante. É tão ruim que o modelo [de medição] não consegue acompanhar. Mesmo sabendo que está numa condição ruim, o modelo não consegue identificar esse processo. O processo está tão intenso, de déficit de precipitação, nessas bacias, principalmente nos formadores do Solimões, que os modelos não estão conseguindo acompanhar”, disse.

 

Além do rio Marañon, a situação é ainda pior no rio Ucayali, localizado mais acima. As chuvas começaram a reduzir por volta da metade de maio e ficaram em estado negativo no fim do mês. Já no território brasileiro, o rio Juruá, um dos principais afluentes do Solimões, passa pela mesma situação. O rio Purus também enfrenta redução no número de chuvas e a perspectiva é que reduza ainda mais ao longo do mês de junho.

 

“A gente está vendo grandes rios, grandes formadores do Solimões, eles estão com precipitação baixa, perspectiva de precipitação abaixo [do normal] pelo menos nos próximos 45 dias, ou talvez um pouco mais. Então é algo que nos causa bastante preocupação”, disse.

 

As declarações ocorreram durante a reunião da Superintendência de Manaus (Sureg-MA) do Serviço Geológico do Brasil (SGB) para apresentação dos alertas de cheia e vazante e das alterações climáticas no estado do Amazonas nesta quinta-feira (6).

 

Previsão de chuvas

Durante sua apresentação, o pesquisador Gustavo Guterres Ribeiro, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), expôs o comportamento esperado das chuvas para os próximos três meses. Segundo as estimativas, haverá mais chuva no norte da Amazônia, incluindo os municípios do norte do estado do Amazonas, enquanto espera-se um clima mais seco ao sul do bioma. Na maior parte do estado, a previsão é de chuvas dentro do normal para o período.

 

Na cidade de Manaus, Gustavo relatou que as chuvas do mês de maio foram muito acima do previsto. Enquanto o Censipam previa um volume mínimo de 181 milímetros e um volume máximo de 256 milímetros, o total de precipitação na capital amazonense em maio foi de 387 milímetros, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

 

Já para os próximos três meses, o órgão prevê uma queda substancial no volume de chuvas pela chegada do verão amazônico. Em junho, o volume mínimo esperado é de 83 milímetros, enquanto o máximo é de 118 milímetros. Para julho, o mínimo esperado é de 32 milímetros e o máximo, 92 milímetros. Já o mês de agosto terá um dos menores índices pluviométricos: no mínimo 39 milímetros de chuva e no máximo 64 milímetros.

 

Mudança de regime

Gustavo Ribeiro também relatou a transição do fenômeno climático El Niño para o La Niña até a próxima estação chuvosa da região Amazônica. Os dois fenômenos produzem efeitos distintos na região: enquanto o El Niño aquece o clima e desfavorece a formação de chuvas, o La Niña faz exatamente o oposto.

 

Segundo a previsão, os próximos três meses serão de neutralidade entre os dois fenômenos, com chance de 49% dos efeitos do La Niña iniciarem já no trimestre junho, julho e agosto. Contudo, no trimestre seguinte (setembro, outubro e novembro), as chances de os efeitos do La Niña começarem sobem para 69%. A expectativa é que o fenômeno climático se estabeleça firmemente ao final do ano, já no período do retorno do inverno amazônico.

 

Monitoramento

A pesquisadora Jussara Cury, do próprio Serviço Geológico do Brasil, ressaltou que o monitoramento hidrológico na região do rio Solimões apresentou comportamento atípico. Em Tabatinga, houve “descidas, oscilações, estabilidade”, o que acabou impactando a região do município de Fonte Boa, deixando o nível das águas em estado de quase estabilidade.

 

“A região de Coari e Tefé só veio sentir mais agora, que a estação de Itapéua começou a apresentar subidas menores, e Manacapuru também, entrando numa fase de, provavelmente, do término do ciclo hidrológico da cheia”, destacou.

 

A pesquisadora ressaltou o volume abaixo da média no nível de chuvas desde o mês de novembro do ano passado. O índice pluviométrico só mostrou sinais de recuperação no mês de maio de 2024, quando ocorreram chuvas acima do normal na região.

 

As chuvas ocorridas na região da cabeceira provocaram um ligeiro pico nos rios do Peru que formam o Solimões, mas que os últimos monitoramentos indicam que eles já estão entrando em estabilidade, fase anterior à vazante.

 

“Quem está subindo ainda lá é o [rio] Napo, a estação de Bela Vista ainda apresenta certos picos e pode vir para cá essa contribuição. Mais distante um pouco, a gente tem San Régis, que rica no [rio] Marañon, que também oscilou, está muito nessa reta de estabilidade e, provavelmente, vai começar a recessão lá. Então, digamos que para o Peru o pico da cheia está chegando e vai começar a recessão”, destacou.

 

Jussara Cury destacou os efeitos negativos da falta de chuvas do rio Branco, no estado do Acre, e no rio Purus, no estado do Amazonas. Os níveis dos cursos d’água estão cotas abaixo da faixa da normalidade. Contudo, a maior preocupação é com a bacia do Rio Madeira, que está abaixo do normal desde o mês de março.

 

“A fase de recuperar já passou, agora é recessão mesmo. É um rio importante para a navegação, para o abastecimento, então a bacia do Madeira inspira cuidados, principalmente quando a gente vê o trimestre do clima, a gente vê que aquela parte sul da bacia não chove. Há tendências de descidas e descidas acentuadas e acabou impactando na estação do Amazonas, em Humaitá”, disse.

 

Já na altura das estações de Itacoatiara e Parintins, o nível das águas do Solimões também ficou abaixo do normal desde o início do ano, não conseguindo se recuperar totalmente no período da cheia. No caso de Itacoatiara, que possui um porto que abastece Manaus, já é possível verificar dificuldades na navegação entre os municípios.

 

Previsões

Jussara Cury apontou que a previsão do pico da cheia do rio Negro na cidade de Manaus será de no mínimo 26,88 metros e no máximo 27,38 metros. A cota do rio nesta quinta-feira é de 26,63 metros. O número é compatível com outros níveis do rio em ano de El Niño. Com isso, o rio Negro tem 52% de superar a cota de alerta e de inundação, mas a probabilidade de chegar a uma inundação severa é de menos de 1%.

 

Precauções

O tenente Charles Barroso, chefe do Centro de Monitoramento e Alerta (Cemoa) da Defesa Civil do Amazonas, apresentou as estratégias do Governo do Amazonas para mitigar os danos da estiagem esperada para os próximos meses. Os principais eixos são a própria seca dos rios, as erosões de margens fluviais – as famosas terras caídas – e os incêndios urbanos e florestais, cujos causadores podem ser tanto as altas temperaturas quanto a ação humana.

 

Dentre as ações de gestão de desastre da Defesa Civil listadas pelo tenente estão o monitoramento, a fiscalização e a repressão às queimadas, o envio de medicamentos e outros insumos aos municípios, aquisição de cestas básicas e água mineral para ajuda humanitária e a dragagem dos rios.

 

Já o representante da Defesa Civil do município de Manaus, Gladiston Alves, apresentou o Plano de Contingência contra a estiagem no ano de 2024. O plano também engloba chuvas intensas, cheia e incêndios. Para o eixo da estiagem, a Prefeitura de Manaus busca produzir projetos que possam beneficiar as comunidades rurais ribeirinhas, realizar o monitoramento hidrológico antecipado e divulgar análise de previsão de desastre, produzir documentos e relatórios para aperfeiçoar ações futuras e acompanhamento das equipes responsáveis por entrega de ajuda humanitária a comunidades ribeirinhas.

 

Por: Lucas dos Santos / online@acritica.com

 

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