Ecobarreiras para frear a poluição de igarapés
Turismo & Meio Ambiente
Publicado em 17/06/2024

Manaus possui outros quatro equipamentos instalados em igarapés nos bairros Coroado, Compensa e Alvorada

 

O Passeio do Mindu, localizado no bairro Parque 10 de Novembro, zona Centro-Sul de Manaus, é conhecido por ser uma área propícia para a prática de esportes ao ar livre, mas desde o dia 13 do mês passado, quem faz uso do local se depara com uma estrutura montada dentro do igarapé que divide as vias: é uma ecobarreira. O contador Luis Cláudio notou a diferença e apoiou a instalação do equipamento.

 

“A gente passa por aqui e é uma água contaminada no igarapé do Mindu, um mal cheiro. Eu acho que uma medida como essa já ajuda a melhorar um pouco as coisas por aqui, né? Tomara que dê certo!” comentou o contador.

 

Além do que foi instalado no local, Manaus possui outros quatro equipamentos desse em igarapés do perímetro urbano nos bairros Coroado; Compensa; e Alvorada, sendo este último com duas unidades. As ecobarreiras foram instaladas pela Prefeitura de Manaus dentro do planejamento de um “cinturão físico” para diminuir a carga de lixo que é transportada até a orla da cidade, mais precisamente na Manaus Moderna. De acordo com o município, por dia, são retiradas 27 toneladas de resíduo sólido do local.

 

A iniciativa do executivo municipal não é exclusividade da capital do Amazonas. A medida para contenção de lixo ganhou fama no Brasil em 2019 quando o vendedor Diego Saldanha criou uma ecobarreira caseira para o rio Atuba, na região metropolitana de Curitba (Paraná). Ele postou o feito nas redes socais e rapidamente viralizou, desde então outros estados adotaram o uso. Em São Paulo, por exemplo, as barreiras fazem parte de um processo para recuperação de rios como aconteceu no município de Birigui.

 

De acordo com a prefeitura de Manaus, a Semulsp retira, por dia, 27 toneladas de resíduos sólidos dos igarapés. (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

 

O ambientalista Ricardo Ninuma defende que elas são eficazes ferramentas de contenção de danos ao meio ambiente por terem a capacidade de impedir o fluxo de lixo dentro de uma cidade. Ele explicou que elas devem ser instaladas nas partes mais estreitas dos igarapés e também em regiões onde a correnteza é forte para que seja 100% aproveitada. Ninuma destacou que o processo é um passo importante rumo ao resgate da “saúde” ecológica dos ecossistemas.

 

“Essas barreiras podem reter um lixo que obstruiria o sistema hídrico da cidade, com toda certeza. Elas ajudam, sim, na luta para que os igarapés possam ficar despoluídos principalmente porque ainda há nascentes que não foram comprometidas, mas é um processo que leva tempo e precisa de outras medidas” comentou.

 

Apenas conter o lixo nas barreias não é suficiente, defende Ninuma. Os resíduos precisam ser recolhidos com a periodicidade adequada e com destino correto de descarte. Em Manaus, esse processo é feito pela Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), que afirmou retirar a carga das barreiras de acordo com a necessidade de cada uma delas.

 

Garrafas PET

O coordenador da coleta seletiva da pasta, Luiz Paz, disse que as garrafas PET são o material mais encontrado nos igarapés, com cerca de seis toneladas retiradas nos primeiros dias de coleta. Atualmente, a prefeitura estuda viabilizar a reciclagem delas junto a empresas interessadas em polipropileno, um polímero termoplástico. A proposta é ter a participação de cooperativas e associações de que trabalhem com as garrafas para que a parceria possa gerar emprego e renda.

 

Manaus possui cinco ecobarreiras em igarapés do perímetro urbano nos bairros Coroado; Parque Dez Compensa (foto) e Alvorada, sendo este último com duas unidades. (Foto: Junio Matos/A Crítica)

 

“A gente só precisa entrar em acordo entre as partes, mas a ideia é essa mesmo. A gente recolhe o lixo das ecobarreiras e os resíduos vão para o aterro sanitário enquanto as garrafas para a as associações” comentou Luiz Paz.

 

Falta conscientização

No dia 3 de junho foi celebro o Dia Nacional da Educação Ambiental, mas a data parece só fazer sentido no calendário oficial do país. Os dados do Pacto Global da Organizações das Nações Unidas (ONU) indicam que o litoral brasileiro tem quase 600 portas de entrada de lixo plástico no Oceano Atlântico e um dos contribuintes é o Amazonas, através do rio que nomeia o estado, com cerca de 160 mil toneladas por ano (terceiro maior contribuinte, atrás do rio São Francisco com 230 mil tons/ano e da Baía de Guanabara, 216 mil tons/ano).

 

Participação da população é importante

O ambientalista Ricardo Ninuma explicou que sem a ajuda da população nenhuma medida do poder público pode alcançar 100% de eficácia quando o assunto é proteção ao meio ambiente.

 

“O cidadão precisa ter consciência do papel que ele tem na sociedade e no combate à poluição. Não adianta criar medidas para recolher o lixo se ele sempre vai ressurgir pelo descarte inadequado” afirmou Ninuma.

 

Luiz Paz disse que a falta de apoio da população de Manaus é um grandes obstáculo, mas que medidas para mudar essa realidade já foram tiradas do papel. O coordenador da coleta seletiva usou como exemplo as lixeiras instaladas em saídas, entradas ou nas proximidades de becos na cidade para facilitar o acesso dos moradores ao descarte adequado. 

 

A Semulsp também iniciou um trabalho de conversa porta em porta com moradores das áreas que mais poluem os igarapés na cidade para que eles entendam sobre os impactos que são provocados por essas ações.

 

“Temos aqui na secretaria quatro equipes de educadores ambientais. São jovens que estão preparados para bater de porta em porta para informar que não pode jogar lixo na beira do igarapé, que existem pontos de coleta e horário também” comentou Paz.

 

Contatos

A secretaria também possui com um contato para quelas pessoas que querem se desfazer de materiais de grande porte como geladeiras, sofás ou televisores, mas não sabem como proceder. Através do contato (92) 98415-9586 o cidadão pode agendar horário e dia para a visita de uma equipe da Semulsp que vai buscar o lixo de forma gratuita.

 

Ecobarreira instalada em igarapé no Passeio do Mundu, no bairro Parque Dez (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

Por: Lucas Motta / online@acritica.com

 

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