Veja o que Caprichoso traz na primeira noite de apresentação no bumbódromo de Parintins
Arte & Cultura
Publicado em 28/06/2024

Bumbá abre o festival trazendo a temática 'Cultura – O Triunfo do Povo' e o subtema 'Raízes: O entrelaçar de gentes e lutas'

 

Parintins (AM) -  O espetáculo do Boi Caprichoso, "Cultura – O Triunfo do Povo" apresenta como subtema da primeira noite "Raízes: O entrelaçar de gentes e lutas", que ao longo da noite de sexta-feira (28) encena na arena do Bumbódromo de Parintins as diversas contribuições culturais que formaram o povo parintinense, assim como o próprio Caprichoso que nasceu, de acordo com a concepção do espetáculo, de mãe indígena e de pai nordestino, representado por Roque Cid.

 

Raízes - O Entrelaçar de gentes e lutas

No primeiro ato, o boi Caprichoso traz a lenda indígena "A Dama da Noite" assinada pelo artista Roberto Reis, 45 anos. A história conta que a noite não existia na terra. Inhambu, filha de Boiúna, a gigantesca serpente, deixou o reinado para viver na floresta, lugar onde se casou com Tacunha, líder do povo tupi. Ela disse que se deitaria com o esposo, somente quando ele trouxesse a noite que estava guardada dentro de um caroço de tucumã, sob o poder de Boiúna.

 

"Muatirisawá, o renascer de Abya Ayala" é o encontro cerimonial da primeira noite. Eddi Dude, 32 anos, é responsável pelas alegorias que trarão os tuxauas para esse ato. Muatirisawá é palavra de origem indígena que significa união. Dentro do subtema esse ato retrata os saberes que entrelaçam gentes e lutas, mais um momento de dança cerimonial dos originários da terra se inicia no solo sagrado Caprichoso.

 

Como Figura Típica Regional, o boi Caprichoso exalta "Mestres e Mestras da Cultura Popular Parintinense", em uma alegoria assinada por Adenilson Pimentel, 43 anos, e Paulo Pimentel, 43 anos. Nesse momento, o boi presta reconhecimento a o Dona Siloca, Ednelza Cid, Zeca Xibelão e Chico da Silva. Roque Cid, fundador e primeiro dono do Boi Caprichoso, também recebe homenagens.

 

O momento coreográfico dessa noite apresenta o “Bicho Folharal, o espírito da luta dos povos-floresta” em uma alegoria assinada pelos artistas Nildo Costa, 42 anos, e Zico Almeida, 50 anos. O Bicho Folharal é um dos representantes das entidades encantadas que guardam a Amazônia, raiz da luta pelo território que herdamos de nossas matrizes indígenas. Esse momento contempla  a junção do cênico com coreografia e módulos.

 

O Caprichoso fecha a primeira noite com o ritual indígena "Rito de Transcendência Yanomami: Mothokari, a fúria do sol", assinada pelo artista Algles Ferreira, 44 anos. Em uma viagem ritualística de Davi Kopenawa, 68 anos, pela primeira vez, voou ao peito do céu onde contemplou as faces iluminadas dos Xapiris e pôde ver o que acontecerá com o futuro do próprio povo e de Hutukara.

 

Esse relato está contido na obra "A Queda do Céu" escrita por Kopenawa e pelo francês Bruce Albert. O Caprichoso mostra na arena o ritual de transcendência Yanomami, em que o pajé, por meio do xamanismo de cantos, danças e o inalar do paricá, lutará contra a fera de fogo Mothokari. O ser Sol desce do céu, libertado pela fragilidade de da casca que a cada dia aumenta, como consequência das ações predatórias do homem.

 

Alegoria para o ritual de 'Transcendência Yanomami: Mothokari, a fúria do sol', assinada pelo artista Algles Ferreira. (Daniel Brandão/A Crítica)

Por: Robson Adriano / online@acritica.com

 

 

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