"A floresta está perdendo sua força", alerta pesquisador do Inpa durante reunião técnica do G20
Turismo & Meio Ambiente
Publicado em 18/09/2024

Um projeto monitora como a floresta irá reagir ao aumento dos gás e se terá capacidade de se regenerar

 

O doutor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Carlos Alberto Quesada, alertou que a floresta amazônica está perdendo sua força regenerativa devido ao aumento de gás carbônico (CO2). O relatório foi apresentado nesta terça-feira (17), durante Seminário Internacional sobre a Amazônia e as Florestas Tropicais, que integra as iniciativas do G20.

 

O evento foi organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e contou com a presença do secretário de clima e sustentabilidade, Osvaldo Moraes, que reforçou a importância da ciência para mapear a Amazônia e gerar relatórios para políticas públicas eficazes.

 

O Grupo de Trabalho reuniu especialistas, cientistas e representantes de organizações internacionais para discutir importantes questões sobre preservação ambiental, inovação científica e cooperação internacional voltadas às florestas tropicais.

 

Durante o discurso no evento, Alberto Quesada explicou que tem monitorado a floresta com torres que formam anéis de 30 m de diâmetro no meio da floresta e que ali fazem experimentos de como as árvores reagem a um aumento de CO2, mas que o painel mostra uma diminuição gradativa das funções.

 

“A floresta está perdendo sua força”, disse Quesada.

 

Em entrevista, o pesquisador foi questionado sobre a atual situação que se encontra a Amazônia e ele explicou que as mudanças já estão afetando e que é preciso cuidados a partir de agora.

 

Carlos Alberto Quesada (Audiovisual/ G20 Brasil)

 

“Ela está precisando de ajuda, eu diria isso. Ao mesmo passo que a Amazônia está ajudando a gente, que ela faz um serviço ambiental gigantesco, não um, vários. A Amazônia armazena uma grande quantidade de carbono, processa uma grande quantidade de água, tem os rios voadores que saem daqui para o resto do país”, afirmou.

 

Quanto aos “rios voadores”, o especialista afirmou que são os vapores de água que saem da região Amazônica e afetam diretamente a umidade de outros estados e até do planeta.

 

Com a preocupação sobre as mudanças climáticas evidentes, o especialista destacou a importância do G20 tratar do assunto e considerar os contextos das desigualdades.

 

“O G20 eu acho que é fundamental nessa história, porque o problema das mudanças climáticas é um problema humano, que nós humanos estamos causando sobre a atmosfera que está nos atingindo não vai atingir as pessoas de forma igual, se você é uma pessoa que tem recursos você vai sobreviver às mudanças climáticas, pois ela vai atingir principalmente as pessoas mais frágeis e as pessoas que não causaram as mudanças climáticas”, informou o pesquisador.

 

Quesada afirmou que as populações mais pobres não são as causadoras dos problemas e que se os países mais ricos não se unirem os seres humanos “vão ser extintos”.

 

“A responsabilidade de liderar esse processo, de tentar um modo de vida mais justo, um modo de vida que inclua esses mais frágeis e que ao mesmo tempo traga políticas públicas voltadas para resolver o problema que nós criamos. Se esses 20 países não puderem fazer isso, eu me pergunto quem vai fazer e a gente provavelmente vai caminhar de mãos dadas para as extinções em massa. Quem tem obrigação de resolver isso é quem criou o problema primeiro”, ressaltou.

 

Essas pesquisas recentes e monitoramento constante, fazem parte da agenda do MCTI.  O secretário de clima e sustentabilidade, Osvaldo Moraes, afirmou em entrevista que o papel principal do ministério é trabalhar com a tecnologia para gerar informações e soluções a partir de perguntas para o processo de adaptação.

 

“O que nos resta fazer agora, em vista de que as emissões continuam crescendo? Quais as políticas públicas que nós podemos fomentar para mitigar essas emissões e também fazer uma outra coisa que é essencial, que são as políticas de adaptação? Nós já estamos vivendo no mundo em transição”

 

Moraes também ressaltou que a seca severa é um problema que já está afetando todo o país.

 

“Bem, uma primeira questão que eu acho que é necessário dizer é o seguinte: essa é a primeira seca que a gente está enfrentando em quase todo o território nacional. Até então, as secas no Brasil eram localizadas regionalmente”, afirmou o secretário do MCTI.

 

Sobre os problemas relacionados às queimadas, o secretário afirmou que precisa ir além de políticas públicas de combate ao fogo, mas que é necessário também uma reeducação do cidadão para compreender e combater esses crimes.

 

“Muitas vezes não basta apenas uma política pública para fazer o controle do desmatamento, o controle das queimadas. É preciso também avançarmos numa outra questão que é importantíssima que é a educação. Nós precisamos fazer a sinalização de que o cidadão individual também é um outro ator importante para nós controlarmos todo esse sistema que nós estamos vivendo. Não basta apenas a gente ter uma política nacional de governo se o cidadão não conhecer essa política e ele não for participante dessa política”, destacou.

 

O secretário também foi questionado sobre como esse processo de descarbonização e políticas públicas baseadas em bioeconomia e no sustentável chegariam nas comunidades mais pobres e distantes da Amazônia. Moraes ressaltou que esses debates precisam ser levados em uma escala geral, com todos os ministérios.

 

“Quando nós pensamos em proteger a Amazônia, não basta ficar pensando que eu tenho que proteger árvores e animais, os seres humanos também fazem parte desse ecossistema, né? E talvez muitos deles são completamente desprotegidos e desassistidos. Então nós precisamos de políticas públicas efetivas de integração dessas populações em processo de desenvolvimento sustentável. E isso requer, primeiro lugar, conhecimento, que é a parte do MCTI, mas requer também o engajamento de todos os demais ministérios para que a gente possa ter um programa de governo para o desenvolvimento sustentável e inclusivo”, disse.

 

Durante o evento também foram apresentados monitoramentos sobre as queimadas na região. O pesquisador Keizo Hirai disse que é um problema que tem deixado “aberturas” na cobertura vegetal da Amazônia.

 

“As análises óticas obtidas por satélites mostram que há uma contínua operação e que esses sistemas desflorestados estão mostrando aberturas de novas clareiras. Com certeza teremos um preço a pagar por esta devastação”, disse o especialista.

 

O pesquisador Keizo Hirai (Audiovisual/G20 Brasil)

 

O estudo apresentado por Hirai verifica a capacidade regenerativa a partir do solo. Basicamente “o estudo mostra como a recuperação de biomassa pode ser feita e quanto tempo isso leva”, explicou, mas que um dos problemas é que diferente de outros países, a parte da região amazônica mostra “maior dificuldade de recuperação” e o motivo seria a dimensão das árvores e do solo.

 

Um dos fatores práticos apresentados que pode ser utilizado como uma solução para descarbonização é a “terra preta de índio”, os solos mais adubados mostram que as árvores dessa área podem absorver mais carbono.

 

Após as apresentações, o diretor do Inpa, Henrique Pereira foi perguntado sobre como estão sendo vistas as ações humanas de queimadas na região, especialmente pelo Inpa ter enfrentado uma tentativa de incêndio criminoso no dia 14 de setembro. O diretor afirmou que a ação revela que são ações propositais.

 

“O incidente que aconteceu aqui no IMPA é ilustrativo de uma condição que precisa ser encarada com bastante seriedade. O incêndio foi provocado, então foi uma ação humana, deliberada. Espontaneamente, esses incêndios não aconteceriam. Então, a componente humana, de certa maneira, nos entende, mas cria uma possibilidade de nós combatermos isso na sua fonte”, informou Pereira.

 

O diretor ressaltou que o caso revela a necessidade de influenciar as atitudes humanas, convencer as pessoas do perigo e das consequências dos incêndios.

 

“É uma alerta para a sociedade de que se as condições do clima chegam nessas situações de tornar a vegetação inflamável, nosso cuidado para evitar o início desses incêndios tem que ser redobrado. Temos que ter muito cuidado. Isso implica as pessoas tomarem muita atenção sobre como manejam, por exemplo, materiais que podem iniciar o processo do fogo. E, obviamente, nós temos que entender o que motiva esses agentes a iniciar essa queimada”, afirmou Pereira.

 

O evento no Inpa encerra nesta quarta-feira (18) e ao final do seminário, o Grupo de Trabalho em Pesquisa e Inovação (RIWG) apresentará um relatório final, que sintetizará as principais conclusões dos painéis e debates. Este documento servirá como base para orientar as futuras ações do G20 em relação à preservação das florestas tropicais, especialmente no que se refere à Amazônia, que desempenha um papel crucial no equilíbrio climático global.

 

(Audiovisual/G20 Brasil)

Por: Emile de Souza / online@acritica.com

 

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