Cientistas da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) vão percorrer trecho do rio em meio a uma das secas mais severas da região. Programa ambiental conta com patrocínio do grupo Atem
Desenvolvido pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM) vai realizar, a partir do próximo dia 28, uma nova expedição pelo rio Negro, um dos principais afluentes do rio Amazonas.
Será a quarta expedição ao rio Negro da equipe de pesquisadores de um dos maiores programas de monitoramento de águas fluviais do mundo. "Esta é uma campanha importantíssima. Vamos acompanhar os parâmetros de qualidade de água durante o período que está sendo previsto para ser o da maior seca da história. Vamos trazer informações que, no futuro, vão permitir saber o que estava acontecendo nesta época", afirma Sérgio Duvoisin Jr., coordenador e criador do ProQAS.
Nesta campanha pelo rio Negro, participam uma comitiva de até 13 pesquisadores e uma equipe de sete tripulantes. O grupo acredita que, devido à estiagem, deve navegar até a cidade de Santa Isabel do Rio Negro, em uma expedição que deve durar cerca de 15 dias. Em outras épocas do ano, a viagem seguiria até São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Venezuela e a Colômbia.
Entre as análises feitas pelos pesquisadores, está a avaliação sobre a presença de componentes ou substâncias introduzidas no rio pela ação humana. "Se eu acho mercúrio, por exemplo, é certo que foi trazido de fora e é um indício da presença de garimpo nas proximidades", explica Duvoisin.
Campanhas é como os cientistas chamam as expedições que eles realizam pelos rios para realizar a coleta e análise de amostras de água, de sedimentos e de peixes. No caso do ProQAS, são realizadas a cada três meses.
O ProQAS/AM desenvolve, desde 2022, pesquisas e atividades de monitoramento da qualidade da água, do solo e do ar no Amazonas. É o único programa de monitoramento da mais extensa bacia hidrográfica do mundo que ocupa, só no Brasil, 3,8 milhões de quilômetros quadrados, abastece milhares de pessoas e serve de fonte de água, pesca, agricultura e outras atividades e usos. No caso da água, é feito o monitoramento dos rios que banham Manaus, além do Negro e do Madeira.
Os pesquisadores partem de Manaus a bordo do barco "Roberto Santos Vieira", construído pelo Grupo Atem especialmente para o programa. Com extensão de 28 metros, a embarcação está equipada com quatro laboratórios de última geração, camarotes para a equipe e um refeitório. Roberto, que dá nome ao barco, foi um dos idealizadores do primeiro curso de Pós-Graduação em Direito Ambiental na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O combustível para cada expedição também é fornecido pela Atem Distribuidora.
"Temos grande orgulho de sermos parceiros desse programa. O apoio a este programa, desde o início, só reforça nosso compromisso com o meio ambiente, com as comunidades ribeirinhas, com o Amazonas e com a pesquisa científica", afirma o CEO do Grupo Atem, Fernando Aguiar.
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Padrão para as águas do Amazonas: rio Negro será o primeiro
As expedições científicas trouxeram os insumos para o Amazonas ser a primeira unidade da federação do Brasil a ter um padrão de qualidade de água específico para cada tipo de rio: águas negras, brancas e cristalinas. O primeiro Índice de Qualidade de Águas (IQA), o de águas negras, foi entregue em agosto deste ano às autoridades estaduais de meio ambiente pela equipe do ProQAS/AM.
Hoje, o Amazonas utiliza o IQA desenvolvido em São Paulo para analisar a qualidade das suas águas. A proposta de índice para águas negras está sendo analisada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Amazonas (Cemaam), responsável por editar resolução tornando válido o novo parâmetro.
"O IQA que estamos propondo considera as características próprias das águas que banham parte do Amazonas. O ProQAS é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de políticas públicas para preservação e melhor uso dos nossos mananciais. É a partir de dados que o gestor público conhece os problemas e define soluções", afirma Duvoisin. A partir dos dados, também é possível identificar riscos que podem comprometer o ecossistema e a saúde humana.
O IQA para águas negras foi desenvolvido a partir do resultado de 340 mil análises, seguindo 164 parâmetros e 64 pontos de coleta, que vem sendo realizadas no Rio Negro desde 2022.
Expedição ao Madeira
Antes do Negro, a última expedição do ProQAS foi para o rio Madeira. O trabalho teve início em abril, por meio da campanha chamada "Iruri", que foi acompanhada por pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA).
A expedição - que incluiu 100 pontos de monitoramento, percorreu 932 quilômetros, analisou 161 parâmetros de qualidade por meio de 54 pontos de coleta - foi batizada com esse nome em homenagem aos povos nativos da região, que se referiam ao Madeira como Iruri, o rio que treme. A continuidade do trabalho no Madeira vai permitir a criação de um IQA de águas brancas. Em seguida, a equipe vai iniciar o IQA de águas cristalinas, a partir de campanhas no rio Tapajós.
O ProQAS conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), do Fundo Estadual do Meio Ambiente (Fema), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e da Atem, a única instituição privada a contribuir na iniciativa.
Em Manaus, o monitoramento dos rios que abastecem a capital e região metropolitana trouxe elementos importantes para a definição do Plano Estadual de Recursos Hídricos e para apontar as bacias que estão degradadas e preservadas. A partir deste ano, conta Duvoisin, o programa vai avaliar também a qualidade da água das microbacias que cortam a capital. "A ideia é ter uma radiografia mais precisa do que está ocorrendo em toda a cidade", explica o pesquisador. O resultado do monitoramento de todo o programa é público e está disponível no site do ProQAS, no endereço: https://www.gp-qat.com/general-1
No monitoramento do solo, o ProQA coleta amostras e monitora 70 padrões de metais. Segundo Duvoisin, este é o primeiro mapeamento em calhas de rio de grande porte no país. Em relação ao ar, o programa foi responsável pelo desenvolvimento e pela atualização do aplicativo Selva, que informa, em tempo real, a qualidade do ar no estado do Amazonas. "É uma ferramenta muito importante, principalmente neste período de queimadas que estamos atravessando", explica Duvoisin.
Sobre a Atem
O Grupo Atem, com 29 anos de fundação, é composto por diversas empresas no ramo de combustíveis, logística rodoviária e fluvial, construção naval e refino de petróleo, entre outras, e está presente em 13 estados do Brasil. A Atem Distribuidora atende a cerca de 400 postos bandeirados e possui 9 bases próprias, 8 bases administrativas de distribuição ativas e milhares de clientes ativos, além de capacidade de movimentação de 9 bilhões de litros de combustíveis por ano.
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Fonte: acritica.com / online@acritica.com