Há tempos, por imagens de satélites, tem sido possível acompanhar o desgaste progressivo de sua cobertura vegetal
A nossa cidade está localizada no coração da floresta amazônica. Na região temos as maiores reservas de floresta e de água potável do planeta, uma biodiversidade fantástica, além de uma miríade de recursos naturais, mas não podemos seguir, de modo automático e cego, os exemplos nocivos de outros países, que dilapidaram o próprio patrimônio ambiental e que, agora, pagam um alto preço por isso.
Nós, em Manaus, já pagamos. Há tempos, por imagens de satélites, tem sido possível acompanhar o desgaste progressivo de sua cobertura vegetal. Até a água, outrora abundante, na severa estiagem dos últimos anos, quase que sumiu das margens do rio Negro, além, é claro, do colossal rio Amazonas... As imagens são impactantes.
Hoje é quase impossível viver e trabalhar em Manaus sem ar-condicionado. Igarapés e balneários, outrora frequentados pelas famílias, estão poluídos ou simplesmente desapareceram. Quase não há árvores no perímetro urbano. E as edificações e o asfalto, dispostos sem nenhuma conexão amigável com o meio circundante, cobriram de cinza a beleza bucólica que enfeitava de sonhos as ruas de nossa cidade, onde há pouco mais de 50 anos ainda era possível dormir de janelas abertas.
Planejada para abrigar 200 mil habitantes, erguida pelo mestre construtor Eduardo Ribeiro e por alguns poucos que o antecederam ou o sucederam, de tão bonita e organizada, já foi chamada de a “Paris dos trópicos”. O que houve para que chegássemos a esta situação? Quais os erros que foram cometidos nessa trajetória? O que é possível fazer, ainda, para reverter esse quadro? São perguntas quem merecem a nossa atenção, a nossa reflexão e a nossa ação. Isso, se queremos mesmo viver com qualidade e legar um futuro melhor para nós e para nossos filhos. Tudo isso começou, em verdade, com a implantação da Zona Franca, a qual, embora tenha trazido muita riqueza para a cidade, de outro lado, trouxe uma infinidade de problemas decorrentes do aumento de sua população, atualmente (2024) formamos um contingente de quase 2,5 milhões de pessoas, agravado pela falta de planejamento responsável por muitos dos que dirigiram, com honrosas exceções. Com a palavra, agora, os candidatos a prefeito e seus respectivos vices, que vamos escolher em segundo turno.
Manaus, em verdade, precisa de um projeto permanente de arborização. Precisa limpar seus igarapés. Precisa desenvolver campanhas e ações de educação ambiental. Precisa evitar a vandalização dos bens de uso coletivo e, quando necessário, promover a sua recuperação. Precisa parar com as queimadas, com as invasões. Precisa recuperar a cobertura florestal de loteamentos urbanos irregulares, bem como incentivar a jardinagem de praças e logradouros públicos. Precisa de ações para preservar o habitat da vida animal, salvando as espécies em vias de extinção. Precisa dar benefícios tributários para quem preserve o meio ambiente. Precisa planejar, resgatar seu passado de beleza, de verde e de glórias, para ser um bom exemplo e, não, uma realidade que incomoda.
*Artigo dedicado a Laís Lopes a todos aqueles que viram o verde esmaecendo em nossa cidade e não se conformaram com isso.
(Foto: Reprodução)
Por: Júlio Antonio Lopes* / julioajlopes24@gmail.com