Instituto Trata Brasil aponta que Manaus tem mais de 99% de cobertura de água tratada e quanto ao esgotamento, a capital está com 31%
Apesar do direito à água tratada de forma universalizada ser um direito de todos, Manaus apresenta uma resistência ao esgotamento adequado, conforme aponta a Águas de Manaus. A concessionária quer chegar a 38% de cobertura até o final de 2025 e a 60% em 2027, tendo 31% de cobertura atualmente.
“Um dos nossos sonhos é a gente voltar a ter os nossos igarapés limpos. E é um sonho do manauara, da gente poder voltar aos banhos que existiam aqui, em vários lugares de Manaus, que hoje são impróprios. E esse dado, às vezes, a gente não acredita nisso, mas temos o exemplo das Olimpíadas (Paris), o Rio Sena já era considerado perdido, sem vida aquática e apesar dos problemas, está sendo recuperado”, disse o gerente de Responsabilidade Social da concessionária, Semy Ferraz.
Além dos problemas encontrados para a garantia do serviço de esgotamento é que, diferente da água, a população precisa ainda ser conscientizada.
“É um serviço que a gente vai nas comunidades e oferece e todos querem ter, mas quando se trata do esgotamento adequado é mais difícil, porque precisa mudar toda a estrutura e não despejar mais direto nos igarapés”, afirmou Ferraz.
Abrangência de água tratada
O Instituto Trata Brasil aponta que Manaus tem mais de 99% de cobertura de água tratada e quanto ao esgotamento, a capital está com 31%. Semy Ferraz informou que, apesar de desafiador, levar esgotamento é satisfatório.
“O que mais é transformador é o acesso ao esgoto tratado, porque o esgoto é a céu aberto, os insetos vão lá e posam nele e vai pro copo. Às vezes, na hora de você tomar a sua água, comer o seu alimento, você acaba trazendo um processo de contaminação. Então, o esgoto tem uma importância maior e produz um resultado maior”, disse.
Um dos trabalhos que a concessionária tem realizado é atender em áreas de rip-raps e levar o esgotamento adequado, como o ocorrido no beco Nonato, no bairro Cachoeirinha, zona Sul, que virou um modelo de recuperação com 1000 redes coletadas. Ferraz destaca que houve redução da quantidade de dejetos, melhorando a oxigenação da água.
“Antes, ficava um cheiro muito forte e agora aparecem alguns peixinhos. Antes, a população reclamava muito do forte odor, agora não temos mais reclamação disso”, apontou Semy.
Questão de saúde
Para a médica infectologista Fabiane Borges, a garantia desses direitos à população é uma questão de saúde.
“Água tratada tem grande impacto na redução de doenças, o saneamento básico diminui consideravelmente as chances de a água contaminada por micro-organismos nocivos ser consumida pela população”, ressaltou.
“Em casos de surtos, a investigação dessas doenças deve contar com a participação da equipe de vigilância da qualidade da água para consumo humano”, destacou a infectologista.
Apesar da universalização da água, algumas pessoas, especialmente as de áreas periféricas, têm esse acesso como algo recente, bem como esgoto. Para o cacique do Parque das Tribos, Ismael Munduruku, ter passado a pandemia, que iniciou em 2020, com água tratada foi “uma benção”.
“E a gente tava preocupado que não tinha água encanada, né? Mas antes que a Covid se alastrasse mesmo por Manaus, a água já estava ligada aqui na comunidade. Então deu pra gente ter água durante essa pandemia e não precisar ir buscar mais longe”, contou o cacique.
Ismael Munduruku relatou que antes de ter acesso à água, doenças causadas por contaminação eram mais frequentes.
(Foto: Daniel Brandão/A Crítica)
Por: Emile de Souza / cidades@acritica.com