Pontífice se destacou pela defesa da natureza, que chamava de casa comum, ao longo de seus 12 anos de gestão à frente da Igreja Católica
Lideranças indígenas lamentaram a morte do Papa Francisco, ocorrida na manhã desta segunda-feira (21) no fuso horário do Vaticano e durante a madrugada no Brasil, relembrando sua luta pela preservação do meio ambiente, tema destacado por ele na encíclica Laudato Si, publicada em 2025. A artista e ativista Thaís Kokama afirmou para A CRÍTICA que recebeu com pesar a notícia do falecimento do Papa e reconheceu que ele “foi uma das vozes mais importantes do cenário global” que valorizou a luta dos povos originários, especialmente na Amazônia.
“Ele compreendeu que defender a floresta também é defender a vida, a cultura e a espiritualidade dos nossos povos. O legado que ele deixa é de coragem e escuta. Ele foi um dos poucos líderes mundiais que nos enxergou não como parte do passado, mas como guardiões do futuro da humanidade. Ao promover o Sínodo da Amazônia, ele abriu espaço para que nossas vozes ecoassem dentro da Igreja e além dela, chamando atenção para os impactos da exploração, do desmatamento e das violências que sofremos”, disse.
Thaís Kokama destacou ainda que, como mulher indígena, artista e comunicadora, carrega a responsabilidade de continuar esse legado de cuidar da casa comum, como Papa Francisco nomeava o meio ambiente em que todos vivem, e pediu que o “espírito de justiça e respeito que ele promoveu siga inspirando o mundo”.
À reportagem, a presidente do Fórum de Educação e Saúde Indígena (Foreea), Alva Rosa Tukano, também lamentou o falecimento do Papa e saudou sua mensagem em favor da preservação ambiental e da defesa dos povos indígenas amazônicos.
“Os apelos em favor da preservação da vida na Terra, as declarações sábias a favor do meio ambiente e o respeito aos povos indígenas, um verdadeiro estadista que se posicionou diante ao mundo em que se cobiça apenas o lucro, para defender os povos mais vulneráveis. Compreendeu e viveu a fé cristã em sua totalidade”, disse.
A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), primeira mulher indígena eleita para a Câmara dos Deputados em Minas Gerais, afirmou que o Papa Francisco foi “um cristão que teve a coragem de pedir perdão pelos crimes do colonialismo e reconhecer a sabedoria dos povos indígenas. Em temos de silenciamento, sua escuta foi rara”.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara (PSOL), também se manifestou sobre a morte de Sua Santidade. Para ela, o Papa Francisco mostrou a todos que a fé “é sobre a escuta e amor ao próximo. Orou pelo mundo na pandemia, foi firme na defesa da paz em meio às guerras e também sempre mostrou seu profundo respeito pelos conhecimentos dos povos indígenas”.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – organismo que articula a interação entre os povos indígenas e a Igreja Católica – relembrou que durante a abertura do Sínodo da Amazônia na cidade peruana de Puerto Maldonado, em 2019, o Papa Francisco declarou aos povos indígenas que, provavelmente, eles nunca estiveram “tão ameaçados em seus territórios como hoje” e exortou a população amazônica, descrita pelos líderes presentes como uma “região de territórios roubados”.
Na ocasião, Francisco declarou: “O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o bem viver. Mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres”.
No documento final do Sínodo, divulgado pelo Vaticano em outubro de 2019, o Papa Francisco valorizou os conhecimentos dos povos da Amazônia em sua “realidade pluricultural”, mostrando o que a milenar Igreja Católica Apostólica Romana poderia aprender para chegar aos corações dos moradores locais.
“Nos povos da Amazônia encontramos ensinamentos para a vida. Os povos originários e aqueles que chegaram mais tarde e forjaram sua identidade na convivência, trazem valores culturais nos quais descobrimos as sementes do Verbo. Na floresta, não só a vegetação se entrelaça apoiando uma espécie à outra, mas também os povos se interrelacionam entre si em uma rede de alianças que beneficiam a todos”, diz um trecho do documento.
(Foto: Perú Católico/Reprodução)
Por: Lucas dos Santos