Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a automedicação é um problema global. Pesquisa do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação (IPOG) revela que 76,4% dos brasileiros se automedicam
A automedicação, prática comum e muitas vezes impulsionada pela busca por alívio rápido para diversos sintomas, esconde perigos silenciosos, que podem levar a sérias complicações de saúde. No Brasil, e no Amazonas, esse hábito gera preocupação. Bruna Borges, médica clínica geral e coordenadora do curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itacoatiara, alerta que o uso de medicamentos sem a devida orientação pode mascarar doenças graves e até mesmo levar à morte.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a automedicação é um problema global. Pesquisa do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação (IPOG) revela que 76,4% dos brasileiros se automedicam.
Na prática de consultório, Bruna Borges observa que os casos mais recorrentes de automedicação são para sintomas leves e agudos. “As pessoas geralmente buscam alívio rápido para dores em geral. São os casos de dor de cabeça, dores musculares ou cólicas menstruais, usando principalmente analgésicos e anti-inflamatórios, como dipirona, paracetamol e ibuprofeno. Outro uso comum é para sintomas gripais e resfriados, situações em que a população recorre a antigripais, xaropes e, de forma perigosa, antibióticos e descongestionantes nasais”, relata a médica da Afya.
A especialista enfatiza que, mesmo que pareça inofensivo, uma simples dor de cabeça tratada com um analgésico de fácil acesso é considerada automedicação. “O perigo está justamente no uso prolongado e sem critério. Existem, por exemplo, quadros de cefaleia crônica (dor de cabeça) que são induzidos pelo uso excessivo de dipirona”, revela.
Ela ressalta que muitos desses medicamentos combinam vários princípios ativos, o que aumenta o risco de superdosagem, efeitos colaterais e até dependência. Além disso, o uso inadequado de antibióticos para infecções virais pode ter consequências sérias, como o desenvolvimento de resistência bacteriana, diz ela.
Consequências graves e a influência da internet
A automedicação pode levar a uma série de complicações. A principal delas é o mascaramento de doenças graves. O alívio de um sintoma pode esconder uma condição séria, atrasando o diagnóstico e o tratamento correto. “Uma dor de cabeça persistente pode ser sinal de algo mais grave, e o uso contínuo de analgésicos impede a investigação da causa”, explica a médica.
Outros riscos incluem intoxicação, dependência de medicamentos como descongestionantes nasais, e interações medicamentosas perigosas, que podem anular efeitos de tratamentos ou potencializar efeitos colaterais.
A internet democratizou o acesso à informação, ela ressalta, mas esse fato traz um lado perigoso para a saúde. A busca por tratamentos on-line, seja por falta de acesso a médicos ou por descuido, é um hábito preocupante. “A informação disponível na internet muitas vezes carece de contexto, precisão e, acima de tudo, não leva em conta o histórico de saúde individual. O que funciona para uma pessoa pode ser perigoso para outra”, observa a médica da Afya.
No Amazonas, segundo ela, a cultura local de recorrer a chás e plantas medicinais sem orientação técnica também é uma forma de automedicação. Bruna explica que muitas plantas contêm substâncias que podem ser tóxicas e, em doses erradas, podem causar reações alérgicas ou interagir com outros medicamentos. “A ingestão de chás com ação diurética ou laxante em excesso, por exemplo, pode levar à desidratação e desequilíbrio de eletrólitos”, adverte.
A melhor abordagem, de acordo com a coordenadora da Afya, é o diálogo entre o saber popular e o conhecimento científico. “A combinação ideal envolve a valorização dos saberes locais, que têm um papel social e cultural importante, e a aplicação do conhecimento científico para garantir a segurança e a eficácia. O objetivo é integrar essas práticas de forma que contribuam para a saúde do paciente, em vez de colocá-lo em risco”, conclui a especialista.
(Foto: Divulgação)
Fonte: acritica.com