Dados do Inpe mostram que em 27 dias de agosto foram computados 7.789 focos ativos de queimadas, montante 83,5% maior do que todo o mês de julho
O número de focos de incêndio registrados no Amazonas, em agosto deste ano, já é o terceiro maior da série histórica de 26 anos analisada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo o órgão, de 1º de agosto até a última segunda (26), o Amazonas registrou 7.789 focos ativos, ficando atrás apenas de agosto de 2021 com 8.588 focos de incêndio e agosto de 2022, com 8.116 focos de incêndio.
Este índice é ainda mais alarmante se for comparado com o número registrado em julho deste ano. No mês anterior, o Amazonas registrou apenas 4.241 focos de incêndio. Apesar de ainda ser um número elevado, o numero de focos ativos registrados aumentou em 83,65%.
Outro dado preocupante é que só o que foi catalogado para o mês de agosto deste ano - 7.789 - é equivalente ao número total de focos de incêndio registrados nos primeiros oito meses do ano passado 7.811.
Vale ressaltar que o Inpe calcula os valores mínimos e máximos mês a mês com anos anteriores desde 1998. Apesar dos valores altos neste ano, até o momento não foi registrado nenhum mês com recorde de focos de incêndio se analisada a série histórica de 26 anos.
Cenário tende a piorar
Segundo o geógrafo, brigadista voluntário e especialista em monitoramento ambiental, Heitor Pinheiro, a fumaça tóxica está se intensificando devido a causas meteorológicas que desfavorecem sua dissipação.
“Devido as condições ambientais, agregada falta de chuvas e a baixa umidade no ar. O cenário de grande parte do Brasil é favorável as queimadas. No Amazonas os municípios do sul do são os que apresentam maiores números, principalmente Apuí, Lábrea e Boca do Acre. Devido a correntes de vento vindas do Sul, a fumaça de praticamente todos os Incendios foi canalizada para a região de Manaus”, pontuou Pinheiro.
Além disso, o geógrafo também não descarta a possibilidade de que existe uma ação criminosa que está coordenando as queimadas ilegais na Amazônia.
“Não posso descartar uma ação coordenada e que em grande maioria essas ocorrências sejam criminosas. Temos grande concentração também no Pará e Mato Grosso. Também não podemos esquecer da grave crise na Bolívia, por isso o cenário está muito preocupante”, acrescentou o especialista em monitoramento ambiental.
Qualidade do ar
Mais uma vez, a capital amazonense amanheceu encoberta por fumaça. Na manhã desta terça-feira (26), por volta das 10h, a qualidade do ar em Manaus foi considerada péssima em maior parte da cidade, segundo o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA).
Os bairros que mais sofreram com a fumaça no início da manhã, foram os bairros de orla, na zona Sul de Manaus, tendo como destaque, o bairro da Cachoeirinha. Em seguida vem o bairro do Parque 10, na zona Centro-Sul da capital, conforme o SELVA. O sistema também apontou que as zonas Norte e parte da zona Leste, estão com a qualidade do ar moderada.
Terras indígenas
Apesar disso, os focos de incêndio não estão em Manaus e sim, no interior Amazonas, próximo de terras indígenas.
A população de São Gabriel da Cachoeira, município no extremo noroeste do Amazonas, também inala fumaça de queimadas ilegais. Na manhã desta terça-feira (27), comunidades indígenas da região publicaram nas redes sociais vídeos de uma ‘nuvem tóxica’ que encobre a zona urbana e as terras indígenas. São Gabriel da Cachoeira é considerado o município com a população mais indígena do país, segundo o Censo de 2022.
A região é uma das que ainda não possui estações de monitoramento da qualidade do ar pelo Sistema de Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), utilizado como referência no Amazonas. Por essa razão, não é possível aferir com precisão o nível de material particulado no município, mas os relatos dão conta de que a situação é crítica e não começou agora.
Crimes ambientais
(Foto: Divulgação)
O Estado do Amazonas já soma mais de 12 mil focos de queimadas neste ano. Para o superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no estado, Joel Araújo, há indícios de incêndios coordenados. Ele também destacou que a Polícia Federal fará uma investigação, assim como em São Paulo, para apurar o os crimes no território amazonense.
“Não tem como a gente comprovar no momento, porque ainda não há uma investigação, mas há materialidade. A ministra Marina Silva acionou o Ministério da Justiça e a Polícia Federal para fazer investigações em São Paulo, e essas investigações também devem se estender para as áreas críticas do Amazonas”, disse para A CRÍTICA.
Combate
Nesta terça-feira (27), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, determinou que a União mobilize, em até 15 dias, o maior contingente de agentes das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Força Nacional e da fiscalização ambiental para atuar de forma repressiva e preventiva no combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia.
Para o custeio das ações, segundo decidiu o ministro, o Executivo poderá abrir crédito extraordinário e, inclusive, editar Medida Provisória (MP).
Incêndios no Amazonas disparam neste mês (Foto: Arquivo AC)
Por: Lucas Vasconcelos / online@acritica.com