Ao optar por mais juros, o País dá um passo atrás, pensando em caminhar por uma estrada mais segura – com inflação controlada – no futuro.
O País se vê em meio a um velho dilema: para conter a inflação e evitar que ela saia do controle, como já ocorreu décadas atrás, a economia é “esfriada” por meio do aumento da taxa de juros. A lógica é: com juros elevados, consumidores vão comprar menos, tomar menos empréstimos, contratar menos financiamentos e, de modo geral, consumir menos, causando uma queda na demanda por produtos e serviços; diante da baixa demanda, os preços são forçados para baixo, obrigando a inflação a recuar.
O problema é que, com esse “remédio”, o País abre mão de crescer economicamente. Só pode haver alta no PIB se houver crescimento da produção e do consumo. Ao optar por mais juros, o País dá um passo atrás, pensando em caminhar por uma estrada mais segura – com inflação controlada – no futuro.
Economistas divergem sobre a eficácia da medida – tomada pelo Banco Central na última quarta-feira, quando a Selic foi elevada a 14,25%, o maior patamar dos últimos anos. Um dos pontos de discussão é que boa parte da inflação atual se deve a um desequilíbrio entre oferta e demanda. No caso do café, por exemplo: problemas climáticos afetaram a safra e, consequentemente, a oferta do produto; o que, combinado com aumento da demanda e outros fatores, deixaram os preços nas alturas. A nova realidade climática está aí. A alta dos juros não vai propiciar safras maiores. Pelo contrário, pode até retrair ainda mais a produção, na medida em que limita o acesso ao crédito.
Enfim, os juros altos são aquele remédio amargo que só deve ser tomado na dose certa, sob pena de prejudicar ainda mais a saúde do paciente. E é claro que não basta só tomar a “medicação”. Outras medidas paralelas são essenciais: o governo precisa identificar as causas da inflação em produtos estratégicos, como combustíveis, e adotar providências específicas. Não adianta ficar reclamando do Banco Central; a autoridade monetária apenas está usando a ferramenta que dispõe. Cabe ao governo utilizar as suas.
Ao cidadão, resta ter máxima cautela em um cenário de inflação e juros altos. Não é um bom momento para compromissos financeiros de longo prazo. Infelizmente, os preços em tendência de alta indicam que os juros devem se manter elevados por um longo período.
(Foto: Agência Brasil)
Fonte: acritica.com