Campanhas de David Almeida e Alberto Cidade, além da disputa pelo eleitorado bolsonarista, precisam dos votos não ideológicos

A uma semana do segundo turno, analistas políticos consultados por A CRÍTICA apontam que o prefeito David Almeida (Avante) e o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL) precisam se esforçar para conquistar o eleitor mais ao centro e focar em diminuir a rejeição a seus nomes. Em meio a uma acirrada disputada, ambos compartilham o mesmo tipo de eleitorado: de direita e mais conservador.

O analista e doutor em administração, negócios e marketing Afrânio Soares destacou essa semelhança ideológica entre os dois candidatos, embora Alberto Neto se aproximasse de uma direita mais radical e David Almeida esteja mais ao centro. O especialista prevê a possibilidade de uma grande abstenção, tanto pela rejeição de um eleitorado mais à esquerda quanto pelo feriado prolongado do aniversário de Manaus.

“É provável que se tenha uma abstenção maior e uma quantidade de brancos e nulos talvez maior do que nas últimas eleições. Algo que vai superar os 8%, pode ir até mais de 10%. Então, esse seria o pessoal da esquerda que não se identifica realmente no ponto de vista ideológico, não quer votar em nenhum dos dois, mas o restante vai se posicionar, até mesmo porque a imensa maioria dos candidatos, cinco dos sete que concorreram, tem um posicionamento voltado para a direita”, disse.

O especialista em marketing e dono da Action pesquisa apontou que os candidatos precisam atrair eleitores que votaram nos candidatos que não chegaram ao segundo turno, mas a aproximação pode se dificultar pela “animosidade muito grande entre todos os candidatos”.

“Acredito que o que fará a diferença na campanha vai ser a forma como eles irão tentar conquistar esses eleitores de outros candidatos. Eles não são eleitores iguais, que uma receita ou um formato só resolva tudo. O eleitor do Amom é um eleitor diferente do eleitor de Roberto Cidade, os dois juntos têm mais de 30% do eleitorado. E esses 30% são bem-vindos a qualquer uma das duas candidaturas que está no segundo turno”, avaliou.

Rejeição

Essa necessidade de atrair o eleitorado dos opositores também foi apontada pelo cientista político Carlos Santiago, que vê uma disputa acirradíssima. Para ele, além de precisar conquistar os eleitores mais centristas, tanto David Almeida quanto Alberto Neto precisam diminuir a rejeição entre os possíveis votantes.

“Isso vai fazer muita diferença e também vai motivar o eleitorado para ir votar. Até porque, com o decreto do município de Manaus que prolonga o feriado, tudo indica que a abstenção será bem maior do que foi no primeiro turno, que já foi uma abstenção considerável, levando em consideração a eleição de 2020, em plena pandemia. Lá a abstenção foi menor do que a de 2024”, destacou.

O uso das máquinas públicas também foi apontado como uma vantagem pelo analista Helso Ribeiro, somado aos apoios recebidos pelos candidatos. Ele indica ainda que “propostas factíveis, propostas sensatas, podem fazer com que os 300 e poucos mil votos que faltaram” considerem ir votar.

“E tem um público que é imenso, que eu diria que é a grande maioria, que não é composto pelos baba ovos nem pelos torcedores de nenhum nem de outro. Eu acho que é nesse momento que as propostas sensatas entram em campo. Fora isso, não acredito que vai ter um pêndulo que seja determinante”, disse.

Acenos à direita e ao centro

O head projetos de marketing Bruno Henrique Strahm classificou a ida de Alberto Neto para o segundo turno como “surpreendente” e mostra que a cidade de Manaus ainda é um “grande bolsão do bolsonarismo no Brasil”.

“As pessoas que votam na direita atualmente podem ser separadas em dois tipos: mais ao centro, que já tem um perfil um pouco mais pragmático, é capaz de fazer alianças com pessoas que não são exatamente do seu espectro ideológico; e tem mais à direita, que já são guiadas por uma orientação ideológica apenas. Então a gente está falando aqui de pessoas com um conservadorismo muito sólido, pouco afeitas a opiniões divergentes”, disse.

O especialista afirma que o prefeito David Almeida é compatível com o eleitorado de centro-direita, enquanto Alberto Neto é atrativo para o perfil mais conservador da população. Com esse nicho do eleitorado é formado principalmente por um tipo “evangélico, conservador, pouco ou nada progressista”, o prefeito David busca avançar nesse segmento.

“Ele já deu algumas declarações nesse sentido, dizendo que ele é um candidato da direita. No entanto, Alberto Neto colou a imagem do Bolsonaro à sua desde o início da campanha, e parece que isso bastou. Tanto é que pouco se falava dele no primeiro turno, mas isso não impediu de ele chegar ao segundo”, frisou.

Imagens: (Instagram/Perfil dos candidatos)

Por: Lucas dos Santos / politica@acritica.com